terça-feira, 22 de outubro de 2013

Se não fosse por você...


"I care for you, I talk to you in my deepest dreams, unfortunate
We got a friendship no one can contest it
And not to mention, I respect you with my all

If it wasn't for you, I'd be alone
If it wasn't for you, I have to hold my own"

(Don't wait - Mapei)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Meu coração é um albergue aberto toda a noite

"Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras, 
Acordar da Rua do Ouro, 
Acordar do Rocio, às portas dos cafés, 
Acordar 
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme, 
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono. 

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar, 
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo. 
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se 
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma, 
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo. 

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne, 
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha, 
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom, 
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada, 
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes, 
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste, 
Seja 

A mulher que chora baixinho 
Entre o ruído da multidão em vivas... 
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito, 
Cheio de individualidade para quem repara... 
O arcanjo isolado, escultura numa catedral, 
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã, 
Tudo isto tende para o mesmo centro, 
Busca encontrar-se e fundir-se 
Na minha alma. 

Eu adoro todas as coisas 
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite. 
Tenho pela vida um interesse ávido 
Que busca compreendê-la sentindo-a muito. 
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo, 
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas, 
Para aumentar com isso a minha personalidade. 

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio 
E a minha ambição era trazer o universo ao colo 
Como uma criança a quem a ama beija. 
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras, 
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo 
Do que as que vi ou verei. 
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações. 
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos. 
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca. 

Dá-me lírios, lírios 
E rosas também. 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também, 
Crisântemos, dálias, 
Violetas, e os girassóis 
Acima de todas as flores... 

Deita-me as mancheias, 
Por cima da alma, 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também... 

Meu coração chora 
Na sombra dos parques, 
Não tem quem o console 
Verdadeiramente, 
Exceto a própria sombra dos parques 
Entrando-me na alma, 
Através do pranto. 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também... 

Minha dor é velha 
Como um frasco de essência cheio de pó. 
Minha dor é inútil 
Como uma gaiola numa terra onde não há aves, 
E minha dor é silenciosa e triste 
Como a parte da praia onde o mar não chega. 
Chego às janelas 
Dos palácios arruinados 
E cismo de dentro para fora 
Para me consolar do presente. 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também... 

Mas por mais rosas e lírios que me dês, 
Eu nunca acharei que a vida é bastante. 
Faltar-me-á sempre qualquer coisa, 
Sobrar-me-á sempre de que desejar, 
Como um palco deserto. 

Por isso, não te importes com o que eu penso, 
E muito embora o que eu te peça 
Te pareça que não quer dizer nada, 
Minha pobre criança tísica, 
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios, 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também..." 

(Acordar - Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, in Poemas)

There's nothing wrong with us


"All in the name of love
All in the name of the sun

[...]

And there's nothing wrong with us"

(All in the name of love - Uniform Motion)

sábado, 17 de agosto de 2013

Dois horizontes fecham nossa vida

"Dois horizontes fecham nossa vida: 

Um horizonte, — a saudade 
Do que não há de voltar; 
Outro horizonte, — a esperança 
Dos tempos que hão de chegar; 
No presente, — sempre escuro,— 
Vive a alma ambiciosa 
Na ilusão voluptuosa 
Do passado e do futuro. 

Os doces brincos da infância 
Sob as asas maternais, 
O vôo das andorinhas, 
A onda viva e os rosais; 
O gozo do amor, sonhado 
Num olhar profundo e ardente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do passado. 

Ou ambição de grandeza 
Que no espírito calou, 
Desejo de amor sincero 
Que o coração não gozou; 
Ou um viver calmo e puro 
À alma convalescente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do futuro. 

No breve correr dos dias 
Sob o azul do céu, — tais são 
Limites no mar da vida: 
Saudade ou aspiração; 
Ao nosso espírito ardente, 
Na avidez do bem sonhado, 
Nunca o presente é passado, 
Nunca o futuro é presente. 

Que cismas, homem? – Perdido 
No mar das recordações, 
Escuto um eco sentido 
Das passadas ilusões. 
Que buscas, homem? – Procuro, 
Através da imensidade, 
Ler a doce realidade 
Das ilusões do futuro. 

Dois horizontes fecham nossa vida." 

(Dois Horizontes - Machado de Assis, in Crisálidas)

É por isso que eu continuo


"And there will come a time, you'll see, with no more tears.
And love will not break your heart, but dismiss your fears.
Get over your hill and see what you find there,
With grace in your heart and flowers in your hair."

(After the storm - Mumford & Sons)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A palavra mágica

"Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro. 
Como desencantá-la? 
É a senha da vida 
a senha do mundo. 
Vou procurá-la. 

Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo. 
Se tarda o encontro, se não a encontro, 
não desanimo, 
procuro sempre. 

Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra."

(A Palavra Mágica - Carlos Drummond de Andrade, in Discurso da Primavera)

It's a little bit funny


"I hope you don't mind
That I put down in words
How wonderful life is 
While you're in the world"

(Your song - Elton John)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

É julho, mas também aumenta

"Agora que é abril, e o mar se ausenta, 
secando-se em si mesmo como um pranto, 
vejo que o amor que te dedico aumenta 
seguindo a trilha de meu próprio espanto. 

Em mim, o teu espírito apresenta 
todas as sugestões de um doce encanto 
que em minha fonte não se dessedenta 
por não ser fonte d'água, mas de canto. 

Agora que é abril, e vão morrer 
as formosas canções dos outros meses, 
assim te quero, mesmo que te escondas: 

amar-te uma só vez todas as vezes
em que sou carne e gesto, e fenecer 
como uma voz chamada pelas ondas."

(Soneto de Abril - Lêdo Ivo, in Acontecimento do Soneto)

Must be a lie...


"I been sleepin for 40 days and
I know I'm sleeping 
'Cause this dream's too amazin
[...]
Ah, It's the magical mystery kind"

(40 Days Dream - Edward Sharper and the Magnetic Zeros)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Árduo e profundo

"Este querer-te bem sem me quereres, 
Este sofrer por ti constantemente, 
Andar atrás de ti sem tu me veres 
Faria piedade a toda a gente. 

Mesmo a beijar-me a tua boca mente... 
Quantos sangrentos beijos de mulheres 
Pousa na minha a tua boca ardente, 
E quanto engano nos seus vãos dizeres!... 

Mas que me importa a mim que me não queiras, 
Se esta pena, esta dor, estas canseiras, 
Este mísero pungir, árduo e profundo, 

Do teu frio desamor, dos teus desdéns, 
É, na vida, o mais alto dos meus bens? 
É tudo quanto eu tenho neste mundo?"

(O maior bem - Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas)

Pliable but strong


"You used to be like copper
Pliable but strong
You used to smile and nod, say 'you're right', be polite
When you know that everybody's wrong."

(Near death experience - Andrew Bird)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Minh'alma deseja tudo

"As minhas esquivanças vão no vento
alto do céu, para um lugar sombrio
onde me punge o descontentamento
que no mar não deságua, nem no rio.

Às mudanças me fio, sempre atento
ao que muda e perece, e ardente e frio,
e novamente ardente é no momento
em que luz o desejo, poldro em cio.

Meu corpo nada quer, mas a minh'alma
em fogos de amplidão deseja tudo
o que ultrapassa o humano entendimento.

E embora nada atinja, não se acalma
e, sendo alma, transpõe meu corpo mudo,
e aos céus pede o inefável e não o vento."

(Soneto das Alturas - Lêdo Ivo, in Acontecimento do soneto)

Dance para desembaraçar



"Dance para controlar o medo
Dance para desembaraçar
Dance a qualquer hora, logo cedo, em qualquer lugar
Dance para controlar os nervos
E só pare para descansar"

(Chapéu Mangueira - Bangalafumenga)

Obs.: Não encontrei um vídeo melhor. Mas a música é maravilhosa! Esta versão aqui é bem melhor. Ouçam!

domingo, 30 de junho de 2013

Nenhuma claridade me alumia

"Vou perdido entre a gente. Não me guia
nenhum braço ou lanterna no caminho
onde a noite pousou ao sol do dia.

Para tamanha dor, ando sozinho.
Nenhuma claridade me alumia.
Nenhuma medicina cura a dor

que me punge e me fere, negro espinho
cravado para sempre no que resta
da vida em que vivi tamanho amor.

Uma luz se apagou após a festa
e neste escuro nem a morte assombra
o defunto que está desenterrado.

De mim mesmo me sinto despojado,
sombra errante que esconde a sua sombra
entre as sombras do chão desamparado.

Este é o fim do caminho. Nada resta.
E o próprio nada se dissolve como
a folha que apodrece na floresta."

(Fim do passeio - Lêdo Ivo, in Mormaço)

Life is too short


"You worry much about things you don't understand 
But don't give up, if it doesn't go with the plan 
Why not have some fun
While you're still young and still ok
'Cause life is short 
Do what you can today"

(We can't we - Asa)

sábado, 29 de junho de 2013

Faço barcos de papel

"Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza…
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel…
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves…
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!"

(Eu escrevi um poema triste - Mário de Quintana)

Write a song


"Take a picture you could never recreate
Write a song
Make a note"

(Trojans - Atlas Genius)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Ciúme

"Morre a luz, abafa os ares 
Horrendo, espesso negrume, 
Apenas surge do Averno 
A negra fúria Ciúme. 

Sobre um sólio cor da noite 
Jaz dos Infernos o Nurne, 
E a seus pés tragando brasas 
A negra fúria Ciúme. 

Crespas víboras penteia, 
Dos olhos dardeja lume, 
Respira veneno e peste 
A negra fúria Ciúme. 

Arrancando à Morte a fouce 
De buído, ervado gume, 
Vem retalhar corações 
A negra fúria Ciúme. 

Ao cruel sócio de Amor 
Escapar ninguém presume, 
Porque a tudo as garras lança 
A negra fúria Ciúme. 

Todos os males do Inferno 
Em si guarda, em si resume 
O mais horrível dos monstros, 
A negra fúria Ciúme. 

Amor inda é mais suave, 
Que das rosas o perfume, 
Mas envenena-lhe as graças 
A negra fúria Ciúme. 

Nas asas de Amor voamos 
Do prazer ao áureo cume, 
Porém de lá nos arroja 
A negra fúria Ciúme. 

Do férreo cálix da Morte 
Prova o funesto azedume 
Aquele a quem ferve n'alma 
A negra fúria Ciúme. 

Do escuro seio dos fados 
Saltam males em cardume: 
O pior é o que eu sofro, 
A negra fúria Ciúme. 

Dos imutáveis destinos 
Se lê no idoso volume 
Quantos estragos tem feito 
A negra fúria Ciúme. 

Amor inda brilha menos 
Do que sutil vagalume, 
Por entre as sombras que espalha 
A negra fúria Ciúme." 

A Negra Fúria Ciúme - Bocage, in Quadras)

There will be sun, fun, love...


"And though it's nearly all these moments are just in my head
I'll be thinking 'bout them as I'm lying in bed
And I know that it nearly, that it might not even come true
But in my mind I'm having a pretty good time with you"

(5 years time - Noah and the Whale)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Para, meu coração!

"Estou cansado da inteligência.
Pensar faz mal às emoções.
Uma grande reacção aparece.
Chora-se de repente, e todas as tias mortas fazem chá de novo
Na casa antiga da quinta velha.
Pára, meu coração!
Sossega, minha esperança factícia!
Quem me dera nunca ter sido senão o menino que fui…
Meu sono bom porque tinha simplesmente sono e não ideias que esquecer!
Meu horizonte de quintal e praia!
Meu fim antes do princípio!

Estou cansado da inteligência.
Se ao menos com ela se percebesse qualquer cousa!
Mas só percebo um cansaço no fundo, como pairam em taças
Aquelas que o vinho tem e amodorram o vinho."

(Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, in Poemas)

That day


"Do you remember
When we met?
That's the day
I knew you were my pet"

(Sea of Love - Cat Power)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A mão que afaga também apedreja

"Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera

Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga.
Escarra nessa boca de que beija!"

(Versos íntimos - Augusto dos Anjos)

I'm like a bird


"And though my love is rare
And though my love is true
I'm like a bird
I'll only fly away
I don't know where my soul is
I don't know where my home is"

(I'm like a bird - Nelly Furtado)

terça-feira, 25 de junho de 2013

Se eu morresse amanhã...

"Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!"

(Se eu morresse amanhã - Álvares de Azevedo)

Hoping you were tender in fate


"Poured myself a warm glass, and laid awake
I prayed the Lord my soul to take
I thought about you all day, yeah we have the same face
I fell asleep so confused, parts of me remind me of you
How could I ever wish away?"

(Sad dreams - Sky Ferreira)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Não cantaremos o amor

"Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."

(Congresso Internacional do Medo - Carlos Drummond de Andrade)

Maybe...


"Maybe if you let me be your lover
Maybe if you tried
Then I would not bother"

(Everything is embarrassing - Sky Ferreira)

domingo, 23 de junho de 2013

Os versos que aí vão...

"Os poucos versos que aí vão,
Em lugar de outros é que os ponho.
Tu que me lês, deixo ao teu sonho
Imaginar como serão.

Neles porás tua tristeza
Ou bem teu júbilo, e, talvez,
Lhes acharás, tu que me lês,
Alguma sombra de beleza…

Quem os ouviu não os amou.
Meus pobres versos comovidos!
Por isso fiquem esquecidos
Onde o mau vento os atirou."

(Versos escritos n'água - Manuel Bandeira)

I'm a war


"And it's for my heart that I'll live
cause you'll never die.
Well if you want to know me, I'm a war"

(Billie Holiday - Warpaint)

sábado, 22 de junho de 2013

Ria, Rosa

"Acaba a Alegria
Dizendo-nos: – Ria!
Velha companheira,
Boa conselheira!

Por isso me rio
De mim para mim.
Rio, rio, rio!
E digo-lhes: – Ria,
Rosa, noite e dia!
No calor, no frio,
Ria, ria! Ria,
Como lhe aconselha
Essa doce velha
Cheirando a alecrim,
A alegre Alegria!"

(Ria, Rosa, Ria - Manuel Bandeira, para Guimarães Rosa)

What's the matter?


"Your brown eyes are my blue skies.
They light up the river that the birds fly over.
Better not to quench your thirst.
Better not to be the first one diving in"

(Undertow - Warpaint)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O rio sou eu

"Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas."

(O Rio - Manuel Bandeira)

Desperdiçamos os blues do Djavan


"Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?"

(Eclipse Oculto - Céu)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A dor com que minto

"Vaga, no azul amplo solta, 
Vai uma nuvem errando. 
O meu passado não volta. 
Não é o que estou chorando. 

O que choro é diferente. 
Entra mais na alma da alma. 
Mas como, no céu sem gente, 
A nuvem flutua calma. 

E isto lembra uma tristeza 
E a lembrança é que entristece, 
Dou à saudade a riqueza 
De emoção que a hora tece. 

Mas, em verdade, o que chora 
Na minha amarga ansiedade 
Mais alto que a nuvem mora, 
Está para além da saudade. 

Não sei o que é nem consinto 
À alma que o saiba bem. 
Visto da dor com que minto 
Dor que a minha alma tem." 

(Fernando Pessoa, in Cancioneiro)

Herz im Ausverkauf.


"Ich versteh' dich nicht,
weil du nicht dieselbe Sprache sprichst.
Alles Schall und Rauch.
Herz im Ausverkauf"

(Schall und Rauch - Tim Bendzko)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Amor é fogo ou fumaça?

"Amor – chama, e, depois, fumaça…
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa…

Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimando o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa…

Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor – chama, e, depois, fumaça…

A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa…

Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linha a arder!
Amor – chama, e, depois, fumaça…

Porquanto, mal se satisfaça
(Como te poderei dizer?…),
O fumo vem, a chama passa…

A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas… tem de ser…
Amor?… – chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa…"

(Chama e Fumo - Manuel Bandeira)

De ontem, de hoje, de sempre.


(Deixo aqui essas linhas breves pra você, amor
Por hoje, por ontem, por amanhã
Amém)

P.S.: Os parênteses são meus, mas a música é de Baden Powell e se chama Primeiro Amor. 

terça-feira, 18 de junho de 2013

A grandeza do homem

"Somos a grande ilha do silêncio de deus 
Chovam as estações soprem os ventos 
jamais hão-de passar das margens 
Caia mesmo uma bota cardada 
no grande reduto de deus e não conseguirá 
desvanecer a primitiva pegada 
É esta a grande humildade a pequena 
e pobre grandeza do homem"

(Ruy Belo, in quele Grande Rio Eufrates)

Tristesse


"Morning will come,
And I'll do what's right;
Just give me till then
To give up this fight.
And i will give up this fight"

(I can't make you love, por Adele)

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Crenças, religiões, amor, felicidade

"Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.


Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!"

(O Acendedor de Lampiões - Jorge de Lima, poeta alagoano)

Maceió ♥


"Você me deu liberdade
Pra meu destino escolher
E quando sentir saudades
Poder chorar por você"

(Alagoas - Djavan)

Eita terrinha pra eu amar! Pudera! Linda do jeito que é...

domingo, 16 de junho de 2013

O que amamos

"O que amamos está sempre longe de nós: 
e longe mesmo do que amamos - que não sabe 
de onde vem, aonde vai nosso impulso de amor. 

O que amamos está como a flor na semente, 
entendido com medo e inquietude, talvez 
só para em nossa morte estar durando sempre. 

Como as ervas do chão, como as ondas do mar, 
os acasos se vão cumprindo e vão cessando. 
Mas, sem acaso, o amor límpido e exacto jaz. 

Não necessita nada o que em si tudo ordena: 
cuja tristeza unicamente pode ser 
o equívoco do tempo, os jogos da cegueira 

com setas negras na escuridão." 

(Cecília Meireles, in Solombra)

Flores de plástico não morrem


"A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes"

(Flores - Titãs e Marisa Monte)

sábado, 15 de junho de 2013

Minha vida está completa

"Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada."

(Motivo - Cecília Meirelles)

Alguém com o seu carinho



"Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim"

(Poema - Ney Matogrosso)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Lembranças

"Minha esperança perdeu seu nome... 
Fechei meu sonho, para chamá-la. 
A tristeza transfigurou-me 
como o luar que entra numa sala. 

O último passo do destino 
parará sem forma funesta, 
e a noite oscilará como um dourado sino 
derramando flores de festa. 

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando 
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes. 
E um campo de estrelas irá brotando 
atrás das lembranças ardentes."

(Atitude - Cecília Meireles, in Viagem)

If you close your eyes...


"But if you close your eyes, 
Does it almost feel like 
Nothing changed at all?"

(Pompeii - Bastille)

Mais uma das (sempre boas) indicações de Afraninho, cujo Transtrazendo também está no facebook agora (é só clicar aqui e curtir). ;)


quinta-feira, 13 de junho de 2013

O limiar do meu ser

"Grandes mistérios habitam 
O limiar do meu ser, 
O limiar onde hesitam 
Grandes pássaros que fitam 
Meu transpor tardo de os ver. 

São aves cheias de abismo, 
Como nos sonhos as há. 
Hesito se sondo e cismo, 
E à minha alma é cataclismo 
O limiar onde está. 

Então desperto do sonho 
E sou alegre da luz, 
Inda que em dia tristonho; 
Porque o limiar é medonho 
E todo passo é uma cruz." 

(Fernando Pessoa, in Cancioneiro)

Parabéns pelos 125 anos que você faria hoje, Fernando.