terça-feira, 22 de outubro de 2013

Se não fosse por você...


"I care for you, I talk to you in my deepest dreams, unfortunate
We got a friendship no one can contest it
And not to mention, I respect you with my all

If it wasn't for you, I'd be alone
If it wasn't for you, I have to hold my own"

(Don't wait - Mapei)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Meu coração é um albergue aberto toda a noite

"Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras, 
Acordar da Rua do Ouro, 
Acordar do Rocio, às portas dos cafés, 
Acordar 
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme, 
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono. 

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar, 
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo. 
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se 
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma, 
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo. 

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne, 
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha, 
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom, 
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada, 
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes, 
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste, 
Seja 

A mulher que chora baixinho 
Entre o ruído da multidão em vivas... 
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito, 
Cheio de individualidade para quem repara... 
O arcanjo isolado, escultura numa catedral, 
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã, 
Tudo isto tende para o mesmo centro, 
Busca encontrar-se e fundir-se 
Na minha alma. 

Eu adoro todas as coisas 
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite. 
Tenho pela vida um interesse ávido 
Que busca compreendê-la sentindo-a muito. 
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo, 
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas, 
Para aumentar com isso a minha personalidade. 

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio 
E a minha ambição era trazer o universo ao colo 
Como uma criança a quem a ama beija. 
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras, 
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo 
Do que as que vi ou verei. 
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações. 
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos. 
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca. 

Dá-me lírios, lírios 
E rosas também. 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também, 
Crisântemos, dálias, 
Violetas, e os girassóis 
Acima de todas as flores... 

Deita-me as mancheias, 
Por cima da alma, 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também... 

Meu coração chora 
Na sombra dos parques, 
Não tem quem o console 
Verdadeiramente, 
Exceto a própria sombra dos parques 
Entrando-me na alma, 
Através do pranto. 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também... 

Minha dor é velha 
Como um frasco de essência cheio de pó. 
Minha dor é inútil 
Como uma gaiola numa terra onde não há aves, 
E minha dor é silenciosa e triste 
Como a parte da praia onde o mar não chega. 
Chego às janelas 
Dos palácios arruinados 
E cismo de dentro para fora 
Para me consolar do presente. 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também... 

Mas por mais rosas e lírios que me dês, 
Eu nunca acharei que a vida é bastante. 
Faltar-me-á sempre qualquer coisa, 
Sobrar-me-á sempre de que desejar, 
Como um palco deserto. 

Por isso, não te importes com o que eu penso, 
E muito embora o que eu te peça 
Te pareça que não quer dizer nada, 
Minha pobre criança tísica, 
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios, 
Dá-me rosas, rosas, 
E lírios também..." 

(Acordar - Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, in Poemas)

There's nothing wrong with us


"All in the name of love
All in the name of the sun

[...]

And there's nothing wrong with us"

(All in the name of love - Uniform Motion)

sábado, 17 de agosto de 2013

Dois horizontes fecham nossa vida

"Dois horizontes fecham nossa vida: 

Um horizonte, — a saudade 
Do que não há de voltar; 
Outro horizonte, — a esperança 
Dos tempos que hão de chegar; 
No presente, — sempre escuro,— 
Vive a alma ambiciosa 
Na ilusão voluptuosa 
Do passado e do futuro. 

Os doces brincos da infância 
Sob as asas maternais, 
O vôo das andorinhas, 
A onda viva e os rosais; 
O gozo do amor, sonhado 
Num olhar profundo e ardente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do passado. 

Ou ambição de grandeza 
Que no espírito calou, 
Desejo de amor sincero 
Que o coração não gozou; 
Ou um viver calmo e puro 
À alma convalescente, 
Tal é na hora presente 
O horizonte do futuro. 

No breve correr dos dias 
Sob o azul do céu, — tais são 
Limites no mar da vida: 
Saudade ou aspiração; 
Ao nosso espírito ardente, 
Na avidez do bem sonhado, 
Nunca o presente é passado, 
Nunca o futuro é presente. 

Que cismas, homem? – Perdido 
No mar das recordações, 
Escuto um eco sentido 
Das passadas ilusões. 
Que buscas, homem? – Procuro, 
Através da imensidade, 
Ler a doce realidade 
Das ilusões do futuro. 

Dois horizontes fecham nossa vida." 

(Dois Horizontes - Machado de Assis, in Crisálidas)

É por isso que eu continuo


"And there will come a time, you'll see, with no more tears.
And love will not break your heart, but dismiss your fears.
Get over your hill and see what you find there,
With grace in your heart and flowers in your hair."

(After the storm - Mumford & Sons)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A palavra mágica

"Certa palavra dorme na sombra 
de um livro raro. 
Como desencantá-la? 
É a senha da vida 
a senha do mundo. 
Vou procurá-la. 

Vou procurá-la a vida inteira 
no mundo todo. 
Se tarda o encontro, se não a encontro, 
não desanimo, 
procuro sempre. 

Procuro sempre, e minha procura 
ficará sendo 
minha palavra."

(A Palavra Mágica - Carlos Drummond de Andrade, in Discurso da Primavera)

It's a little bit funny


"I hope you don't mind
That I put down in words
How wonderful life is 
While you're in the world"

(Your song - Elton John)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

É julho, mas também aumenta

"Agora que é abril, e o mar se ausenta, 
secando-se em si mesmo como um pranto, 
vejo que o amor que te dedico aumenta 
seguindo a trilha de meu próprio espanto. 

Em mim, o teu espírito apresenta 
todas as sugestões de um doce encanto 
que em minha fonte não se dessedenta 
por não ser fonte d'água, mas de canto. 

Agora que é abril, e vão morrer 
as formosas canções dos outros meses, 
assim te quero, mesmo que te escondas: 

amar-te uma só vez todas as vezes
em que sou carne e gesto, e fenecer 
como uma voz chamada pelas ondas."

(Soneto de Abril - Lêdo Ivo, in Acontecimento do Soneto)

Must be a lie...


"I been sleepin for 40 days and
I know I'm sleeping 
'Cause this dream's too amazin
[...]
Ah, It's the magical mystery kind"

(40 Days Dream - Edward Sharper and the Magnetic Zeros)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Árduo e profundo

"Este querer-te bem sem me quereres, 
Este sofrer por ti constantemente, 
Andar atrás de ti sem tu me veres 
Faria piedade a toda a gente. 

Mesmo a beijar-me a tua boca mente... 
Quantos sangrentos beijos de mulheres 
Pousa na minha a tua boca ardente, 
E quanto engano nos seus vãos dizeres!... 

Mas que me importa a mim que me não queiras, 
Se esta pena, esta dor, estas canseiras, 
Este mísero pungir, árduo e profundo, 

Do teu frio desamor, dos teus desdéns, 
É, na vida, o mais alto dos meus bens? 
É tudo quanto eu tenho neste mundo?"

(O maior bem - Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas)

Pliable but strong


"You used to be like copper
Pliable but strong
You used to smile and nod, say 'you're right', be polite
When you know that everybody's wrong."

(Near death experience - Andrew Bird)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Minh'alma deseja tudo

"As minhas esquivanças vão no vento
alto do céu, para um lugar sombrio
onde me punge o descontentamento
que no mar não deságua, nem no rio.

Às mudanças me fio, sempre atento
ao que muda e perece, e ardente e frio,
e novamente ardente é no momento
em que luz o desejo, poldro em cio.

Meu corpo nada quer, mas a minh'alma
em fogos de amplidão deseja tudo
o que ultrapassa o humano entendimento.

E embora nada atinja, não se acalma
e, sendo alma, transpõe meu corpo mudo,
e aos céus pede o inefável e não o vento."

(Soneto das Alturas - Lêdo Ivo, in Acontecimento do soneto)

Dance para desembaraçar



"Dance para controlar o medo
Dance para desembaraçar
Dance a qualquer hora, logo cedo, em qualquer lugar
Dance para controlar os nervos
E só pare para descansar"

(Chapéu Mangueira - Bangalafumenga)

Obs.: Não encontrei um vídeo melhor. Mas a música é maravilhosa! Esta versão aqui é bem melhor. Ouçam!

domingo, 30 de junho de 2013

Nenhuma claridade me alumia

"Vou perdido entre a gente. Não me guia
nenhum braço ou lanterna no caminho
onde a noite pousou ao sol do dia.

Para tamanha dor, ando sozinho.
Nenhuma claridade me alumia.
Nenhuma medicina cura a dor

que me punge e me fere, negro espinho
cravado para sempre no que resta
da vida em que vivi tamanho amor.

Uma luz se apagou após a festa
e neste escuro nem a morte assombra
o defunto que está desenterrado.

De mim mesmo me sinto despojado,
sombra errante que esconde a sua sombra
entre as sombras do chão desamparado.

Este é o fim do caminho. Nada resta.
E o próprio nada se dissolve como
a folha que apodrece na floresta."

(Fim do passeio - Lêdo Ivo, in Mormaço)