"Assim como toda flor perde o viço e como toda juventude
Cede à idade, floresce cada degrau da vida,
Floresce toda sabedoria também e toda virtude
A seu tempo, e não pode durar para sempre.
O coração deve, em cada chamado da vida,
Estar pronto para a despedida e para o recomeço,
Para se dar, na valentia e sem qualquer
Luto, a outras novas ligações.
E em todo começo reside um encanto próprio
Que nos protege e nos ajuda a viver.
Transponhamos serenos espaço a espaço
E a nenhum nos prendamos qual a uma pátria.
O espírito do mundo não quer nos atar nem comprimir,
Ele quer elevar-nos degrau a degrau, alastrar-nos.
Mal nos habituamos a ser íntimos
De um ambiente, ameaça o relaxar-se.
Só quem está pronto para partir e viajar
Poderá eludir o hábito paralisante.
Acaso a hora da morte ainda nos envie
Ao encontro de novos espaços,
Jamais há de cessar o clamor da vida por nós...
Eia, pois, coração, despede-te e convalesce!"
(Degraus - Hermann Hesse)
Tradução de Afrânio Novaes para o seu Transtrazendo.
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