terça-feira, 30 de abril de 2013

O presente é tão grande, não nos afastemos...

"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."

(Mãos dadas - Carlos Drummond de Andrade)

Eu canto para quem?


"Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

[...]

Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?"

(Esquadros - Adriana Calcanhotto)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Tempos atrás

"Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno."

(Paulo Leminski)

I'll keep this wisdom in my flesh



"Sure as I am breathing
Sure as I'm sad
I'll keep this wisdom in my flesh
I leave here believing more than I had
This love has got no ceiling"

(No Ceiling - Eddie Vedder)

domingo, 28 de abril de 2013

Silencioso


"Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?
Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca."

(Intervalo - Fernando Pessoa)

Rise up


"Gonna rise up
Bringing back holes and dark memories
Gonna rise up
Turning mistakes into gold"

(Rise - Eddie Vedder)

sábado, 27 de abril de 2013

A minha glória é esta

"'Vem por aqui' — dizem-me alguns com os olhos doces 
Estendendo-me os braços, e seguros 
De que seria bom que eu os ouvisse 
Quando me dizem: 'vem por aqui!' 
Eu olho-os com olhos lassos, 
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) 
E cruzo os braços, 
E nunca vou por ali... 
A minha glória é esta: 
Criar desumanidades! 
Não acompanhar ninguém. 
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade 
Com que rasguei o ventre à minha mãe 
Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam meus próprios passos... 
Se ao que busco saber nenhum de vós responde 
Por que me repetis: 'vem por aqui!'? 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, 
Redemoinhar aos ventos, 
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, 
A ir por aí... 
Se vim ao mundo, foi 
Só para desflorar florestas virgens, 
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! 
O mais que faço não vale nada. 

Como, pois, sereis vós 
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem 
Para eu derrubar os meus obstáculos?... 
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, 
E vós amais o que é fácil! 
Eu amo o Longe e a Miragem, 
Amo os abismos, as torrentes, os desertos... "


(Cântico Negro - José Régio, in Poemas de Deus e do Diabo)

You came to cure my heart


"Todo dia a gente tem um ao outro
Manhã cedo agora é bom de levantar
Toda dor que me aparece eu te conto
Você me cura sem sequer notar"

(Baby, I'm sure - Mallu Magalhães)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Eu, passarinha

"O pardalzinho nasceu
Livre. Quebraram-lhe a asa.
Sacha lhe deu uma casa,
Água, comida e carinhos.
Foram cuidados em vão:
A casa era uma prisão,
O pardalzinho morreu.
O corpo Sacha enterrou
No jardim; a alma, essa voou
Para o céu dos passarinhos!"

(Pardalzinho - Manuel Bandeira)

Nadie vio como yo a ti te quise...


"Pa cuando tú volvieras 
Pensé cantarte coplas viejas 
De esas que hablan de amores y de sufrimiento
Cuando tú vuelvas niña 
Te como a besos"

(No habra nadie en el mundo - Conha Buika)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Teadorar


"Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo: Teadoro, Teodora"

(Neologismo - Manuel Bandeira)

Encontrei a consolação...




"Quando eu vi
Que o largo dos aflitos
Não era bastante largo 
Pra caber minha aflição, 
Eu fui morar na estação da luz, 
Porque estava tudo escuro 
Dentro do meu coração..."

(Augusta, Angélica e Consolação - Tom Zé)


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Eu faço versos como quem morre...

"Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

– Eu faço versos como quem morre."

(Desencanto - Manuel Bandeira)

Tutto si fa chiaro


"A te che hai reso la mia vita
Bella da morire
Che riesci a render la fatica
Un immenso piacere"

(A te - Jovanotti)